segunda-feira, 9 de maio de 2016

EXPEDIÇÃO EX ESCRAVOS DE JÓ - 30/04/2016

EXPEDIÇÃO COM OS SEGUINTES MEMBROS DO GAIA SPELEO CURVELO:
TONHÃO COSTA, GERALDO PEREIRA, MARCELO MOURA E SEUS FILHO PEDRO E ANDRÉ.
Mapa da Expedição Ex Escravos de Jó


A alcunha da expedição - Ex escravos de Jó - é mais uma lavra do Marcelo Moura. Sempre impreterível, à inglesa: Saímos de Curvelo às 11:00 horas da manhã. Em poucos mais de 30:00 minutos chegamos no Morro do Coroado.


Deixamos o carro e seguimos para o caminho à esquerda do Coroado, acessível após se transpor uma cerca de arame liso. Seguimos por essa estrada sempre atentos, pois a intenção principal dessa vez era reencontrar o ou os primatas que avistamos na Expedição Exodontia para confirmar a identificação. Não logramos êxito. Por todo o percurso toquei o playback da vocalização das espécies que poderiam ser - muriqui-do-sul ou mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoides) ou muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus). Não sei exatamente se o playback serviria para alguma coisa, é uma técnica muito boa para aves - mas não custa nada tentar. Chegamos a um ponto em que comumente lanchamos quando seguimos essa rota onde Marcelo e Tonhão debatiam sobre a que rumo seguir. Pelo GPS Marcelo orientou que subíssemos. Fomos reto então por esse ponto, até chegarmos a um local onde as pedras se encontram bastante descobertas da vegetação e de qualquer estrato terroso. Como se tivessem sido depositadas umas sobre as outras propositalmente. Mandacarus (seriam mesmo?) cresciam aqui e ali. Pedro, o filho mais velho de Marcelo, se pôs a cortar com um facão um belo espécime desses cactáceos. Recebeu uma lição de seu pai sobre a importância de mantermos intacto o ambiente que visitamos. Aliás, investido da autoridade paterna e envergado na sapiência que o cargo lhe empresta, ele puxou para a conversa o seu outro filho, André. Deixou claro que a nossa missão é tão somente analisar, colher as informações que os seres e as coisas nos fornecem. Não podemos interferir negativamente com a nossa busca pelo conhecimento. Aquela foi uma pontual, interessante e necessária aula de educação ambiental.

Continuamos nos afastando desse local onde pedras formam tabuleiros. Belas cápsulas abertas de jequitibá-branco (Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze) Lecythidaceae estavam dependuradas em outra árvores que não consegui identificar. Conversamos sobre essa importante espécie e a riqueza da flora ali existente. Em um determinado momento percebemos que estávamos em um ponto ainda inexplorado. Ao fazermos uma breve avaliação e o Marcelo balizado pelo GPS nos vimos obrigados a retornar.  Começamos então o retorno e logo fomos surpreendidos por uma fenda na rocha. Tonhão aventou que poderia ser algo de interesse. Fizemos uma avaliação meticulosa do local. Deparamo-nos com uma abertura logo após uma árvore cheia de liquens esverdeados onde havia uma bela aranha. Fiquei ali, fotografando o aracnídeo enquanto Tonhão já se encontrava no interior da gruta. Marcelo ficou sobre esse local e seus filhos avançaram para dentro da abertura. Entrei também, pois o entusiasmo dos companheiros me encheu de curiosidade.

Era, sem dúvidas, uma bela cavidade: calculamos em torno de 10 metros quadrados, depois me indaguei se não seria menos (temos que providenciar logo um aparelho, mesmo que rústico, para essas medições). Esse salão me intrigou mais ainda por ser o único onde pudemos constatar de fato a presença de formações calcárias formando um interessante espeleotema ainda não observado no Morro do Coroado. Helictites e escorrimentos forravam o teto da cavidade. Foram, sem dúvidas, formadas pela ação da penetração de água da chuva, já que não identificamos ainda na montanha algum curso d'água - tal encontro seria demasiado incrível. Em uma das helictites, uma formação, não muito grande, instigava pela sua característica. Era uma estrutura dentilhada nas bordas, côncava, as suas paredes eram ligeiramente lisas. Olhando de perfil lembrava um cabochão de gema grosseiramente lapidada. Abaixo dela um escorrimento brilhante que André observava curioso. Pedro vasculhava com uma lanterna outras formações do teto enquanto com outra Tonhão iluminava uma fenda acima e a direita da entrada principal. Aventei que poderíamos encontrar fóssil, mas Tonhão bem assegurou que deveras havia essa possibilidade, muito embora o que vinha do teto e de fora pelas chuvas depositava-se no solo. Milhares ou milhões de anos de deposição só poderiam ser transpostos com o uso de adequadas ferramentas e preparo técnico - do que estávamos desprovidos na ocasião. Ainda dentro da gruta indagamos sobre a alcunha a qual deveríamos tratar aquele novo encontramento. Decidimos de denominá-la "Gruta do André" - em homenagem ao jovem filho do Marcelo, guerreiro de todas as viagens.
Saímos da Gruta do André partindo a direita sobre ela. Após uma subida relativamente tranquila nos deparamos, apenas com o percalço de algumas pedras soltas, mas plenamente transponíveis, com um trecho de descida mais complexo.  Tonhão já se encontrava bem à frente enquanto Marcelo auxiliava os seus filhos na descida. Atrás, analisei sobre as árvores se via algum vestígios dos primatas.
Do ponto onde eu estava era possível ver a pedra aonde vimos ele subir ligeiro na expedição anterior. Argumentei que devíamos seguir em frente e logo estaríamos naquele local. Marcelo positivou a minha opinião pelos dados do GPS. - Se a gente seguir uns 50 metros aí em frente vamos chegar nela. Seguimos, portanto. Era possível ouvir com nitidez o zunizar de abelhas. Muitas abelhas. Pensei comigo que poderia ser um enxame em revoada, ou talvez estivessem alvoroçadas com a nossa presença. Preocupei-me com a possível defesa dos insetos (sou terminante contra a ideia de que o animal ataca o ser humano. Raras vezes isso é verdade. Quando um animal, seja ele qual for tenha ele o porte e a agressividade que tiver nos agride ele está apenas se defendendo. Defendendo a sua casa, a sua cria, o seu território. Infelizmente incutimos nos demais seres vivos a ideia de que somos uma ameaça. Ameaça que somos, devemos ser evitados, achincalhados, expulsos! É a lei a sobrevivência).
Encontramos um local que dava em um despenhadeiro. Recuei. Tonhão chegou a beira e atestou ser o local intransponível. Recuamos todos, fazendo o caminho inverso. Subimos a fenda que custamos a descer e atingimos a porta da gruta recém-descoberta. Paramos para descansar e nos alimentar. Após um breve período decidimos descer e encontrar a estrada novamente. Tonhão exclamou interrogante, como um esbravejo: - Caramba sô, será que nos perdemos de novo? O "de novo" se explica pela tônica das outras expedições, sempre recheadas de "estamos perdidos". Encontramos a estrada e sentamos no chão mesmo. Enquanto analisavam os dados das máquinas eu toquei o pula pula (Basileuterus culicivorus), o balança-rabo-de-máscara (Polioptila dumicola) o cabeçudo (Leptopogon amaurocephalus) e o chorozinho-de-chapéu-preto (Herpsilochmus atricapillus). Todos responderam bem, mas um casal de pula pula se mostrou bastante territorialista. Mesmo depois de muito tempo de ter parado de tocar a sua vocalização eles insistiam em nos seguir pelo topo das árvores. Nesse ínterim percebi que os quatro companheiros subiam novamente ligeiramente alinhados à esquerda. Eu subi também, mas à direita. Cheguei sobre um pequeno elevado de onde avistei uma bela barriguda (Ceiba pubiflora) florida. Argumentei que tínhamos de seguir à direita. Tonhão queria à esquerda. Marcelo era da minha posição. Tínhamos um breve impasse. Sentaram-se lá onde estavam, argumentando, enquanto os meninos balbuciavam entre si. Não participei dessas averbações por estar demasiado a frente. Depois de um breve debate eles aprumaram ao meu rumo. Logo entendi que o Marcelo havia convencido o Tonhão, pelos dados do GPS, que havíamos andado quase que em círculos. Subimos portanto - e demos de cara com a gruta das abelhas! A toca da aranha-maria-gorda (Nephilengys cruentata)! O paredão onde o macaco havia subido com extrema ligeireza quando da Expedição Exodontia. Marcelo e os filhos sentaram-se aliviados e puseram-se a lanchar. Argumentei com Pedro se ele já havia visto as pinturas rupestres. Ao responder negativamente Tonhão e eu o convidamos a vir assistir in loco a história. Era uma gruta com inscrições já observadas na Expedição Mula-sem-cabeça (que devemos descrever em breve). Ficamos felizes ao perceber que haviam outras pinturas. Mais uma vez os peixes eram protagonistas. Uma figura arredondada  com quatros pontos saindo como que esgalhados da sua parte superior me chamou mais a atenção. Para mim é trata-se da representação de uma Ceiba pubiflora. Eu, no lugar de um pintor de outrora, não deixaria de tentar representar aquelas belezas imponentes.
Próximo a uma fenda, na base inferior de uma rocha, diversas pinturas se encontravam sob uma fina manta calcária. Tonhão aventou se deveríamos tentar retirar essa camada, eu disse a ele que não seria prudente de nossa parte nenhuma tentativa, já que não temos experiência para tal empreendimento. Deveríamos agir como agimos com as demais pinturas:  jamais manipular, jamais tentar limpar - apenas observar. Documentamos essas novas inscrições enquanto as abelhas ficavam cada vez mais arredias. Eu disse ao Tonhão que era a hora de sairmos dali, caso contrário teríamos dissabores com as Apis melifera. Fomos então para onde estavam Marcelo e André. Aproveitamos para lanchar e descansar. Um acauã (Herpetotheres cachinnans) cantava ao longe.
Andei ali por perto olhando o paredão. Um ponto preto voou e se empoleirou em um chichá (Sterculia striata).  Fotografei de longe. Era uma maria preta (Knipolegus sp.). Não pude comprovar a espécie com exatidão já que as fotos ficaram demasiado ruins. Subi com dificuldade um caminho até ao seu encalço sempre tocando o playback dos mais variados Kinopolegus possíveis de ser encontrados na região.Em vão, a ave desapareceu sobre o Coroado.
Desci desse ponto desapontado e fui em direção aos demais exploradores que continuavam em repouso. Sentei ali novamente um pouco, mordiscando uma maçã que Tonhão me ofertou. Eu estava de certa forma inquieto e levantei-me novamente. Não que havia algum incômodo, mas simplesmente não conseguia ficar parado. Avancei à direita ouvindo a vocalização das aves. Pude comprovar a presença do pica-pau-anão-barrado (Picumnus cirratus), um bando de gralhas, distantes, acredito que picaça (Cyanocorax chrysops), pitiguari (Cyclarhis gujanensis), graúnas (Gnorimopsar chopi) - que sempre vocalizam da fazenda depois da estrada que leva ao Coroado. Logo Tonhão me alertou de que estavam começando a descida definitiva. Descemos reto, saindo logo na estrada, bem no ponto onde havíamos parado para lanchar. Enquanto eu comia uma maçã e fotografava uma abelha das orquídeas (família Apidae, tribo Euglossini) Marcelo e Tonhão demarcavam aquele ponto para que nunca mais nos perdêssemos partindo dele.
Voltamos para o carro e demos término à Expedição Ex Escravos de Jó. Seria de se esperar uma frustração por não termos encontrado o ou os macacos, mas encontramos uma nova gruta e novas pinturas rupestres. A pior expedição é aquela em que sequer chegamos a sair de casa para executá-la. Em campo todo resultado é positivo.

 

Galeria de fotos

domingo, 8 de maio de 2016

sábado, 7 de maio de 2016


MORRO DO COROADO - PRESIDENTE JUSCELINO (MG)

VISUALIZAÇÃO DAS NOVES GRUTAS EXPLORADAS NO MORRO DO COROADO - EM PRESIDENTE JUSCELINO MG- TAMBÉM CONSTA LOCAIS DOS SÍTIOS ONDE ENCONTRAMOS INSCRIÇÕES RUPESTRES. 

domingo, 1 de maio de 2016